Vamos entrar no tempo da Quaresma, o grande retiro espiritual dos cristãos. Durante esse período sagrado, a Igreja nos exorta aos exercícios quaresmais: oração, jejum e esmola.
Tenho insistido muito na oração como caminho de união de vida com Deus. Na Quaresma a oração é aliada ao jejum, que é proposto como forma de sacrifício e de educar-se, privando-se de algo e revertendo em serviço à caridade. Não precisa ser necessariamente de alimento. Pode ser escolhido outro tipo de sacrifício, por exemplo, abster-se do cigarro, da internet, etc. E aliada há também a esmola como prática da caridade fraterna. E não se trata apenas de dinheiro, mas de praticar as obras de misericórdia espirituais e corporais, doando-se e relacionando-se com o próximo, nos preparando pra celebrar dignamente os mistérios da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Portanto, a Quaresma é por excelência o tempo propício à conversão e reconciliação com Deus. Importante sempre, o Sacramento da Reconciliação tem um apelo muito forte neste tempo, convidando-nos a fazer a experiência da misericórdia divina através do perdão.
Com muita frequência recebo partilhas de pessoas afastadas deste Sacramento, geralmente por vários motivos, como: não verem sentido em confessar com um sacerdote, então eles confessam diretamente com Deus; acharem que não têm pecado; por não saberem confessar; e até mesmo por não compreenderem a misericórdia de Deus, e não se sentem merecedores do perdão e, envergonhados, acabam se afastando Dele.
Vejamos: Jesus tinha o poder de perdoar os pecados e transmitiu este aos Apóstolos, seus legítimos sucessores, quando apareceu no meio deles e disse: “Assim como o pai me enviou, também eu vos envio a vós”. Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àquele a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,21-23).
Nos relatos dos Atos dos Apóstolos, encontramos a afirmação: “Os que haviam acreditado ‘vinham’ confessar e declarar suas obras” (At 19, 18). O verbo “vir” deixa claro que havia a necessidade de um deslocamento do penitente até os Apóstolos para realizar a confissão. Se a confissão a um homem também pecador, mas investido do poder de perdoar não fosse recomendada, bastaria pedir perdão diretamente a Deus, sem a necessidade de “ir” até os Apóstolos.
Por: Padre Reginaldo Manzotti