O ex-presidente Lula prestou depoimento nesta terça-feira (14), na Justiça de Brasília, na ação a que responde por tentativa de obstrução de Justiça. É a primeira vez que ele fala como réu na Lava Jato.
A polícia interditou uma das ruas em frente ao tribunal por segurança, mas apenas um grupo de cerca de 15 militantes aguardava a chegada de Lula.
O ex-presidente e mais seis pessoas são acusados de tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que ele não fizesse acordo de delação premiada e revelasse detalhes sobre o esquema de pagamento de propina na estatal.
Segundo o Ministério Público, Lula, o senador cassado Delcídio do Amaral, o ex-chefe de gabinete dele Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves, o advogado Edson Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele Maurício Bumlai atuaram para impedir a delação de Cerveró.
A denúncia, baseada nas delações premiadas de Delcídio e do assessor dele, aponta provas de que R$ 250 mil foram repassados a Cerveró.
Na audiência ao juiz Ricardo Leite, Lula disse que Delcídio conta “inverdades”; que a relação com ele era institucional; que conhecia Cerveró apenas de vista; e que não tem nada a temer.
“Doutor, só tem um brasileiro que poderia ter medo do depoimento do Cerveró. Pela relação que tinha com ele que é o Delcídio. Eu não tinha relação com o Cerveró. Portanto, eu não tive nenhuma preocupação com depoimento de nenhum empresário, de nenhum diretor da Petrobras, porque não tenho essa relação com eles. Portanto, o Delcídio contou uma inverdade nesse processo”, afirmou Lula.
Juiz: Essa reunião existiu? Lula: Deve ter tido muitas reuniões com o Delcídio. Ele era senador da República, era líder do governo, nós conversamos muitas vezes em São Paulo e em Brasília.
Com o depoimento de Lula, foi encerrada a fase de interrogatório dos réus. O juiz deu prazo de dez dias para que a defesa e a acusação peçam novos procedimentos como coleta de provas.
Lula é réu em outras duas ações penais em Brasília e outras duas no Paraná, além disso, é investigado em mais quatro inquéritos da Lava Jato.
O crime de obstrução à Justiça está previsto na lei de organização criminosa e prevê prisão de até oito anos e multa.
A defesa do Edson Ribeiro afirmou que ele nunca pretendeu retardar a delação de Nestor Cerveró. E que os interrogatórios, até agora, mostram que ele não teve qualquer participação no caso.
A defesa de Maurício Bumlai disse que ele já esclareceu à Justiça que nenhum valor foi entregue a Delcídio do Amaral pra ser repassado a Nestor Cerveró. E que Cerveró era uma pessoa desconhecida da família.
A defesa de Diogo Ferreira afirmou que ele já confirmou em depoimentos ter entregado valores a Nestor Cerveró a mando de Delcídio do Amaral, achando que eram auxílio do ex-senador a família. E que Diogo não tinha conhecimento da real finalidade do dinheiro.
A defesa de André Esteves disse que todas as testemunhas afirmaram que o cliente não tem nenhum envolvimento no assunto.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de José Carlos Bumlai. Delcídio do Amaral não quis se pronunciar.