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Por que alguns 'odeiam' o som de pessoas comendo!
05/02/2017 20:05 em Novidades

Intolerância a sons como mascar chiclete indicaria distúrbio cerebral.

Cientistas pensam ter descoberto porque é que algumas pessoas reagem de forma intensa quando ouvem alguém a mastigar ou a respirar mais alto.

 

A explicação está na misofonia: uma condição que se caracteriza por reações intensas a determinados sons e que é bem mais complexa do que “não gostar de certos barulhos”.

Cientistas britânicos mostraram que os cérebros de algumas pessoas estão programados para produzir uma resposta emocional excessiva nesse tipo de situações.

Um desses casos é Olana Tansley-Hancock, que vive com essa condição há mais de duas décadas. “Eu sinto-me ameaçada quando ouço determinados barulhos e a resposta é sempre debater-me ou fugir desses sons”, explica a jovem de 29 anos.

Em entrevista à BBC, Olana conta que os sons que a irritam incluem pessoas a mastigar, a respirar mais alto, o barulho das folhas ou até o som dos sacos de papel ou de plástico.

“Qualquer pessoa a comer daqueles snacks crocantes faz-me afastar de imediato. O barulho do pacote a abrir já é o suficiente para eu sair dali”, explica.

Passei muito tempo a evitar locais como o cinema. Nos comboios, por exemplo, eu tinha de mudar de lugar sete ou oito vezes em menos de meia hora. Cheguei a despedir-me de um emprego passados três meses por ter passado mais tempo a chorar e a ter ataques de pânico do que a trabalhar”, recorda.

Raiva

Para perceber melhor esta condição, a equipa de cientistas britânicos analisou o cérebro de 20 pessoas com misofonia – incluindo Olana – e outras 22 sem o problema.

Os voluntários tiveram de ouvir vários barulhos, enquanto estavam ligados ao equipamento de ressonância magnética, tais como o som da chuva (som neutro), gritos (som mais incómodo) e sons que, no geral, ativam a doença.

Os resultados, divulgados na publicação científica Current Biology, revelaram que a parte do cérebro que une as sensações com as emoções – o córtex insular anterior – estava excessivamente ativa em momentos de misofonia.

Além disso, nos participantes que sofrem com este problema, as conexões e interações com as outras partes do cérebro davam-se de forma muito diferente.

“Ficam extenuados quando começam a ouvir esses sons, mas a atividade era específica sobre os sons que ativam a doença e não os outros”, explica Sukhbinder Kumar, da Universidade de Newcastle.

A reação é maioritariamente de raiva. Não é nojo nem desgosto, a emoção dominante é raiva – parece uma resposta normal mas, de repente, torna-se exagerada”.

Tratamento

Não há tratamentos conhecidos para este problema, mas Olana desenvolveu uma forma de o contornar usando, por exemplo, tampões nos ouvidos. Algumas das coisas que pioram a situação são a cafeína e o álcool, por isso tenta evitá-los ao máximo.

“Mas agora consegui suavizar a questão, ainda consigo ter um emprego. Conheço muitas pessoas que não conseguem”, afirmou.

Ainda não se sabe ao certo se este problema é comum, ou não, uma vez que também não há uma forma clara de o diagnosticar, e também por ser uma descoberta recente.

A esperança dos investigadores é que o entendimento sobre como funciona o cérebro de uma pessoa com misofonia – em comparação com o cérebro de outras pessoas – ajude a encontrar um tratamento.

Uma ideia é que passar uma corrente elétrica de baixa intensidade pelo crânio, ação conhecida por ajustar funções do cérebro, poderá ajudar.

Tim Griffiths, professor de neurologia cognitiva da Newcastle University e da University College London, espera “que isso possa tranquilizar um pouco os pacientes”.

 

“Eu fazia parte dos céticos até que começámos a receber pacientes e entendemos o quão surpreendentes e semelhantes eram as suas características”.

ZAP // BBC

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